dimanche 8 novembre 2009

Estrangeira



Papai e mamãe se conheceram
Brincaram juntos num momento
Brincaram juntos e se entenderam
Brincaram sérios juntos até meu nascimento

Entrei na brincadeira
Esta esperada porém não controlada
Tanto fui rainha na brincadeira
Tomei a mamãe do papai e ainda a deixei desolada

Perdi o trono de majestade
Ao que me elevaram e depois despojaram-me
Não pude satisfazer-lhes os desejos
Assim os tomei como meus

Mas, conta-me, quem sou eu?
Este eu que da brincadeira nasceu
Este eu que  brincou, atrapalhou
E na brincadeira morreu?

vendredi 10 juillet 2009

O abismo digital emocional

Não dá pra separar> real, virtual, social, política, economia, educação, cultura, são sempre inter-dependentes e influentes, mesmo que se procure separar para um estudo específico. Conclúi que nem vale a pena separar ou se perde aliendando-se do todo.

O abismo digital emocional: tão delicado e complexo assunto. No extremo da simplificação, penso como aprendi com minha vó: tudo em excesso faz mal! Sem exceção, até amor em excesso não faz?!

<*imediact reaction>programming is like sex: new String().append(beads[]).insertAfter(body.getInstance().getPleasure
........................onclick(open=window[b&h%&0110&%*bz&...ERROR MESSAGE]
bzzz
&*&&*%%#$¨&*01000000000000000000001000000000000000000000000000000010

<*imput>calm:

Para Pierre Lévy (Lévy, 1996), desde meados da década de 90, um movimento chamado virtualização afeta as diversas instâncias do ser humano e da sociedade: as transformações do corpo humano, o funcionamento da inteligência, uma nova cultura do texto, os aspectos econômicos, a concepção de linguagem, entre outros

"As informações não criam idéias; as idéias criam informações. Idéias são padrões integrativos que não derivam da informação, mas da experiência"
(ROSZAK, 1994).

No caso do extremo de excesso do uso do virtual a ponto de abandonar muitas atividades q fazia no real presencial, estaríamos falando de um vício? A palavra deriva do latim vitium=falha ou defeito. Se o adolescente muda seu cotidiano a ponto de causar mal a si e ou aos q convive seria um viciado à net.

De acordo com o Ambulatório Integrado dos Transtornos do Impulso do Hospital das Clínicas de São Paulo, há oito características que definem os Heavy users (usuários pesados):

•Pessoas com inteligência acima da média e com velocidade de raciocínio muito alta.
•Preferem passar o dia todo conectados a realizar outras atividades.
•Apresentam sintomas de depressão, ansiedade e outros distúrbios.
•Preferem interagir virtualmente do que realmente.
•Usam a internet com refúgio, pois apenas neste espaço conseguem expressar o que são ou pensam.
•Possuem poucos amigos reais.
•Desenvolve um comportamento único na rede.

Claro q o ideal q se busca é: use a net sem q ela o use, assim como qualquer outra fonte de recursos. A crescente detecção desses excessos e demais transtornos em jovens com menos dos 18 anos, mostra que nossos adolescentes estão mais sujeitos a isso, porque a formação da personalidade de grupo se dá justamente nesta fase. Como os nossos jovens estão trocando as conversas pessoais por chats, redes de relacionamento, jogos online e a própria internet, há um vão no desenvolvimento deste fator relacional, o que reflete em adolescentes mais tímidos, com poucos amigos reais, mais consumistas e elevação do número de problemas psicológicos. Com tantas facilidades proporcionadas pelas novas tecnologias, é indiscutível o fato de nos sentirmos atraídas por elas. Foi assim com a eletricidade, com o automóvel, a geladeira, o fax, a máquina de escrever e, claro, não seria diferente com a internet. Mas, até que ponto estas facilidades são positivas? Até que ponto facilitar tanto nossa vida deixa de ser algo positivo e se volta contra nós?

o virtual é o que existe em potência, como por exemplo: a árvore está presente na semente de forma virtual. “O virtual é como o complexo problemático, o nó de tendências ou de forças que acompanha uma situação, um acontecimento, um objeto ou uma entidade qualquer, e que chama um processo de reso-
lução: a atualização” (Lévy, 1996

O virtual não substitui o real, o consenso entre os pesquisadores é de que o complemente. Surgindo maior liberdade de atrações, escolhas com a tecnologia, surge maior responsabilidade e maior angústia pelo amplo leque de escolhas e aí os mais jovens muitas vezes não estão ainda preparados pra tanto aumento de responsabilidade em tão pouco tempo, ora agem como crianças ora como responsáveis e não é difícil caírem nas tentações de tantos atrativos e facilidades oferecidos pela rede. Por isso, acho q aí a educação entra com enorme influência e responsabilidade pra evitar o excesso sem restringir demais, servindo como um apoio de referência pra ancorar qdo o jovem não se sente segura pra assumir toda a responsabilidade.

PERRENOUD (2000) afirma:
[...] A verdadeira incógnita é saber se os professores irão apossar-se das novas tecnologias como um auxílio ao ensino, para dar aulas cada vez mais bem ilustradas por apresentações multimídia, ou para mudar de paradigma e concentrar-se na criação, na gestão e na regulação de situações de aprendizagem.




http://www.mtv.com/videos/misc/236311 ... le-world.jhtml#id=1586148

lundi 15 juin 2009

Como funciona a linguagem na esquizofrenia


Cláudia Maria Generoso, Psicóloga clínica do Centro Referência em Saúde Mental/ Cersam Betim-MG); mestre em Psicologia/Estudos Psicanalíticos, pela UFMG. Especialista em Saúde Mental,.aposta no "fazer junto’, na ação prática mais ligada ao cotidiano, aos pequenos detalhes da vida, possibilitando uma historicização dos acontecimentos ou incentivando o desempenho de algum papel social possível, bem como a eleição ou construção de algum objeto etc." e busca entender a lógica do funcionamento da linguagem possibilita-nos perceber melhor esse modo subjetivo, bem como apostar na construção de soluções"


No esquizofrenico há fragmentação da fala e do corpo, pela falta de interesse pelo mundo, assividade etc(...), o q permite ações variadas sobre eles: ações de reabilitação psicossocial, pesquisas de medicamentos de última geração, intervenções cognitivo-comportamentais, atendimentos tradicionais em psicanálise etc. Porém, os efeitos de quase todas essas ações muitas vezes não atingem o sujeito ou acabam por reforçar a posição objetal do paciente, permanecendo o isolamento social, a passividade diante do outro, a fragmentação, as esquisitices ou bizarrices, culminando nos casos nomeados de refratários ao tratamento, à medicação, ao convívio social. As intervenções não conseguem atingir o paciente em sua subjetividade, capturá-los para construir soluções que consigam implicá-los. Pelo contrário, ao permanecerem sem interesse pelo mundo externo, esses pacientes acabam sendo rotulados de crônicos ou residuais, rótulos estes que são um atestado para aqueles casos que não têm mais solução.

A linguagem na esquizofrenia demonstra com mais evidência o que é estar fora do laço social, tornando-se uma espécie de ‘paradigma’ do fora-do-discurso. Portanto, o funcionamento da linguagem na esquizofrenia demonstra especificidades que apontam para outra forma de relação com a linguagem.


Eugen Bleuler, que, em 1911 introduziu a noção de complexo afetivo como fator regulador do modo de funcionamento do pensamento e das ações do sujeito, que, até então, estava atrelado à idéia clássica da associação sobre o funcionamento do pensamento. Para Bleuler, a esquizofrenia referia-se sobretudo à dissociação das funções psíquicas, cujos sintomas fundamentais compreendiam a perturbação das associações do pensamento e da afetividade. Apesar de ser contrário à idéia de Kraepelin sobre a evolução desses casos para a demenciação e incurabilidade, Bleuler não descartou a possibilidade de uma causalidade orgânica


"idéia de dissociação ligada à perda da unidade das funções psíquicas prevaleceu como uma das principais características dessa entidade clínica(...) também a prevalência da idéia de dissociação, relacionada a uma falha na função de síntese do eu"

“para o esquizofrênico todo o simbólico é real”
(LACAN, 1954/1998, p.394), Seminário, Livro 1 (1953-1954

• a palavra como coisa (FREUD, 1915/1976
• a linguagem de órgão (FREUD, 1915/1976)
• o simbólico como real (LACAN, 1954/1998 - do momento estruturalista de 1954, 1955 e ainda um pouco do contexto pós-estruturalista, de 1972-1973
• a exterioridade em relação ao laço social como discurso (LACAN, 1972/2003e 1958,

Em Freud, o funcionamento da linguagem ocorre via modo de satisfação pulsional auto-erótico, observado na linguagem de órgão(somatização ?) ou nos fenômenos hipocondríacos. Destaca-se, também, a exterioridade dos mecanismos do inconscientea céu aberto, tal como os fenômenos esquizofrênicos que surgem sob a forma da palavra como coisa(perda de abstração ?): manifestação de expressões neológicas, a salada ou copulação das palavras, a concretude da fala que traz um enunciado sem a articulação dos representantes psíquicos com o funcionamento inconsciente, pois não houve o recalque. Como conseqüência disso, há uma prevalência do funcionamento da representação de palavra que não se vincula à representação de coisa como recalcada, não operando o mecanismo da substituição. E, nesse caso, a palavra é tomada como coisa.(superinvestida ?, leva ao pé da letra) Assim, muitas vezes palavras machucam como se fossem a coisa em si(?), não distanciamento abstrato

A linguagem fica mais à deriva, mais vulnerável à decomposição ou ao congelamento, pois aquilo que poderia sustentar ou ancorar uma significação e um sentido, não funciona.

Nos textos metapsicológicos freudianos que é a fixação do representante-representação (representante da pulsão que constitui o núcleo do Inconsciente, e o recalque) que cria um ponto de articulação e dá suporte à representação, conferindo-lhe um caráter de realidade, cuja relação entre representação de palavra e representação de coisa serve para designar ou denotar.

no esquizofrenico ► falta esse suporte (?)

Lacan → momento estruturalista: alteração na função do imaginário, no sentido de não ser consistente, como aquilo que não foi regulado pelo simbólico.

Na esquizofrenia não há a sustentação do eu, pois não houve a fixação de uma imagem unificadora, permanecendo aquém da alienação imaginária do eu. Nesse caso, a imagem não fisga o corpo, não cumprindo sua função de estruturação do corpo ao fixar um contorno totalizante. Trata-se da fragmentação do imaginário e, por conseguinte, partes disjuntas do corpo que funcionam sozinhas, não coordenadas pelo simbólico.

Contexto teórico de 1954, em que aparece a expressão o simbólico é real (LACAN, 1954/1998, p.394), Lacan dá ênfase ao registro do imaginário, associando a ele a libido, e, por conseguinte, as perturbações psíquicas, no sentido das flutuações libidinais (LACAN, 1954/1986, p.210). → remete a uma falência do imaginário que não foi regulado pelo simbólico prevalecendo o funcionamento da linguagem que não foi envolvida pelo imaginário, pois não há o investimento da libido imaginária (LACAN, 1954/1986, p.166)

libido imaginária → permitiria certa consistência da linguagem na vertente imaginária

inconsistência imaginária → sugere uma relação direta da linguagem com o real que não foi separado pelo simbólico , nao podendo representálo simbolicamente

Nesse nível que se apresenta a dimensão da linguagem não articulada ao apelo, manifestando-se a fala sem a intenção, sem entonação, sendo isso o que faz se prender ou querer algo, pois não há o investimento da libido imaginária. Se não há captura imaginária, podemos dizer que não houve a alienação imaginária, a qual é uma característica dos paranóicos que ficam detidos apenas nessa alienação.

Essa dimensão da linguagem, que não foi investida libidinalmente, é verificada em muitas falas de esquizofrênicos, tal como a desagregação ou descarrilamento do pensamento, as pára-respostas, as expressões sem nexo ou dissociadas, a falta de interesse pelo mundo, as expressões neológicas, as quais não remetem a nada, a nenhuma significação (mesmo que delirante). Podemos dizer que essa dimensão da linguagem é o que levou Bleuler a tratá-la em termos de dissociação do pensamento, cuja consciência não conseguiu cumprir sua função de ligação e orientação das associações dirigidas a uma meta principal.

Federn, considerou como uma desadaptação do Eu em sua dimensão de unidade de investimento, incapaz de comandar os processos psíquicos

Freud e Lacan consideram a importância da cisão do psiquismo como constituinte para qualquer sujeito, não sendo específico da esquizofrenia. Bem como quando eles fazem essa discussão vinculando-a de uma forma de funcionamento diferente do inconsciente, dando ênfase ao inconsciente na articulação da linguagem

O discurso vem cumprir uma função de articulação e arranjo entre a linguagem e o que resta fora dela arranjo, possibilitada pelo discurso, permite lidar melhor com o corpo, criando lugares e funções simbólicas estáveis para os órgãos que compõem uma estrutura de funcionamento unificado e não questionável constantemente. Nessa defesa do real pelo simbólico (MILLER, 1996), a relação do ser falante com a linguagem é de habitá-la e de fazer dela seu instrumento, conforme indica Lacan no artigo O aturdito.

Devido ao fato de o esquizofrênico ser remetido ao fora do discurso, manifesto na conexão imediata entre o significante e o gozo, bem como sofrer dos efeitos da linguagem que o habita, invadindo-o, cuja posição é de instrumento, ele precisa inventar funções para o seu corpo despedaçado → decomposição da linguagem “um prazer macabro nessa boa oportunidade de injetar de alguma forma as palavras que saíam da sua boca nas orelhas de seu filho, seu único filho — ou como ela lhe tinha dito varias vezes: sua única posse —, parecendo tão feliz por fazer vibrar o tímpano dessa única posse, e em conseqüência disso, os ossículos do ouvido médio da dita posse, seu filho, em uníssono quase exato com suas cordas vocais...”
(WOLFSON, 1970, sendo a voz da mãe uma extensão do tímpano dele
)

Não houve uma separação de seu corpo da fala da mãe, impossibilitando a criação de lugares para a linguagem exterior ao corpo

mardi 19 mai 2009

Fluxo imprevisto



Solidão do Grande Terror embalsamado na invisível aura da contingência vital, material, terrena. Despreparo de uma ignorância daquilo que não se pode nomear fragmenta as imprescindíveis ligações de coerência, sintática e semântica no despencar da linguagem semiótica, fraturada no âmbito de implacável desolação.

Não, não é um terror em si como se pensa ou entende, mas sim o lapidar espiritul absorvendo uma miríade de ondas energéticas cuja potência esfacela o que se poderia perceber como um ser humano.

O Anjo-Mestre em seu alado corcel deslizante por entre as nuvens do insigne céu, de azul perfumado, a acalentar as mais nobres almas, desfila com destreza inigualável.
Uma visão esplêndida daquela entrada majestosa e janota da passagem do Anjo enquanto as nuvens em azáfama vão cedendo espaço para o elegante ser, glorificando a cena do surgimento de resplandescente personalidade.

Borbulhas de ar, quebrando como bolas de sabão, saem na ânsia pressurosa do coração arfante e inflamado. Espera-se, no entremeio do devir de mistério e transcedência, qualquer panacéia que abrevie a insustentável condição de inoperantes trejeitos convencionados pela impostura desajeitada daquela existência por demais alienada.



Chovem ruidos na carência táctil
Cria-se no desespero do viver

O dispositivo que protege e alivia
Sem quatro mãos alegria sucumbiria

Todavia o cosmos é fértil e expansivo

Possibilita no inaudito encontro

Das fantasmáticas mãos de sabedoria

O esvair dum conteúdo cambiante

E dançante na mágica sintonia
Do rodopiar de letras, energias, harmonia


dimanche 26 avril 2009

Da loucura, uma parte


Nossa cultura é paranoizante. Ensina que se deve desconfiar até da própria sombra.

"Todo conhecimento é paranóico." (Lacan)

Se, quando chegamos a uma conclusão por nosso raciocínio, não teimássemos que temos razão ainda que pareça estranho e diferente para as outras pessoas nenhuma ciência se desenvolveria. Se Freud não fosse teimoso e um pouco paranóico a Psicanálise não teria sido criada ou descoberta por ele. É apenas o excesso que caracteriza a insanidade, algo mais pra quantitativo que qualitativo. No entanto, um mínimo de desconfiança, paranóia serve como proteção no mundo atual, pois não se pode confiar em tudo e em todos. A diferença está na intensidade da convicção, não na qualidade do pensamento. Ou seja: não me é possível concordar com a teoria das estruturas imutáveis de perverso, psicótico e neurótico. Contudo percebe-se nitidamente funcionamentos de modos diversos entre os classificados como neuróticos, psicóticos etc. São nuances subjetivas e peculiares do psiquismo funcionar, até hoje extremamente misterioso e desconhecido amplamente. Eu, como ser, o que sou? Um monte de matéria agregada lutando contra certa entropia através de minha "escrevidão"? Vivo por um ideal de sociedade transcendente a minha existência, o que também poderia ser nominado lunatismo, e este projeto ideal rejeita a desigualdade, a discriminação, a injustiça desavergonhada, a imbecilidade dos corruptos governantes e poderosos. Mas eis que sonhos e ideiais são incompatíveis com a concretude da realidade, que absurdo!

"É preciso ser Werther ou nada" (Camus)

Bleuler pensava que o delírio era secundário a perdas de significações e símbolos em termos mentais. Penso: como essas perdas começam a se manifestar antes do delírio? O pensamento desorganiza, foge toda hora, os fatos perdem a ligação entre si, a associação entre signos e significados torna-se fraca..., ocorre um ensimesmamento progressivo, isolamento social até que se desliga da realidade social.

"Gosto daquele que sonha o impossível" (Goethe)




A história de Clarissa Dalloway, personagem de Virgínia Woolf, parece uma novela. Pura descrição de pensamentos e algumas falas. Especulações de pontos de vista diferentes. V.Woolf encarna com seriedade seus personagens e é muito boa nisso. Dá a impressão de que viveu mais na ficção literária que na realidade. Ela se suicidou com quase sessenta anos de idade, mas tinha cabeça de jovem imatura no cotidiano concreto, embora conseguisse criar sábios e uma deversidade de personalidades em suas histórias. Possuía muito conhecimento, embora sentisse estranheza e perplexidade com sua vida.



"Tel est la vie des hommes: quelques joies très vite effacées par inoubliables chagrins... Il n'est pas nécessaire de le dire aux enfants." (Marcel Pagnol in "Château de Ma Mère)






Sou um tempo desregrado
A prescrutar os vãos do dia
Costurando sons e lembranças
Sonhos estranhos, elaborados
Fazendo brilhar a tênue magia
Das miúdas esperanças
Resto do universo acabado
Matéria reduzida a energia
Voltando a ser criança
Brincando de fantasia

"É monstruoso dizer-se que o artista não serve pra humanidade. Ele sempre é o transcendentalista que passa a raio X os nossos verdadeiros estados de alma." (Anais Nin)

De fato,da chuva de ilusões desta máquina capitalista a nos moer não há como esvair-se com integridade autêntica, sejam comunistas, professores, benfeitores, falsários, publicitários, artistas. A redenção mostra-se inatingível, mas a batalha é necessária, dura e ingrata. Não há realidade paralela a não ser a da solidão desesperada e exaustiva do surto psicótico, e assim o é na vida, na arte, na morte.

por: Tania Montandon

mardi 24 mars 2009

Internetadas




Calafrios pelo corpo,
tremor nas extremidades.

A velha caneta e o papel,
saudades.

De texto em texto,
hipertextos...

De link em link,
hiperlinks...

Outra aba, outra janela,
o tempo escoa, voa, some...

A materialidade da existência dissolve-se
no tráfego intenso das idéias e estímulos tantos.

Chega a hora de dizer:
- Saia da tela, dê-me um abraço, amigo dito leal!

Emoções mediadas por luz, chips,
ótica falseada já é muito descaso.




Grama possui cheiro, testa-me o olfato.
Textura, terra, mãos...

Pra dizer com segurança
que o virtual só engana em potencial.

Longe está de substituir a essência real
do tudo isso que julgo ser a experiência presencial.


samedi 7 mars 2009

Estudando a virtualidade II



Muito antes do advento comercial da internet, já em 1984, o livro Neouromancer de Willian Gibson, trazia consigo o termo "ciberespaço" (ou cyberspace). Hoje em dia usa-se o termo como sinônimo de internet pelo fato de ser especialmente na rede que a maior parte das características do ciberespaço se manifesta, como realçar os fluxos de informações do mundo inteiro, ultrapassando fronteiras e independentes de latitudes ou longitudes geográficas e em velocidade fascinante. Essa teia que entrelaça as multifontes informacionais através de meios de telecomunicação unida à informática, incluindo meios digitais e analógicos, em funcionamento local, regional ou mundial, ou seja, toda a parafernália - televisão, rádio, celulares, telefones convencionais, etc - que usa a infraestrutura de cabo de cobre, fibra ótica, ondas de satélite ou rádio, organizados em rede tendo seus terminais de comunicação gerenciados por computadores formam o ciberespaço. Este, composto pelo fluxo de meios de comunicação que relaciona os mais diversos de tipos de usuários 'virtuais', que ao contrário do que se diz, não se opõe ao real e sim aponta o que é potencial. "A palavra virtual vem do latim medieval virtuale, significando o que existe como faculdade, porém sem exercício ou efeito atual. Provém daí seu segundo significado como algo suscetível de se realizar; potencial. Na filosofia escolástica é virtual o que existe em potência, não em ato, resultando numa terceira referência à virtual como o que está predeterminado e contém as condições essenciais à sua realização" (Rey, 1998:29)


Como exemplo desse conceito, numa obra de arte como as pinturas do Renascimento Italiano o estudo das leis de projeção óptica realizam o processo de transposição do espaço real (tridimensional) para o espaço virtual (bidimensional). Aqui não se pode deixar de considerar a idéia da Mimésis(representação da realidade) que dominou a criação de imagens por mais de quatro séculos e motivou o surgimento de novas formas de representação da arte - televisão, fotografia, cinema... O virtual nesse exemplo é somente a ilusão de três dimensões causada intencionalmente pela profundidade do campo visual estudado e sugerido pela obra de arte.


Sobre o Ciberespaço, define Gilbertto Prado: "Este poderia ser o lugar, a zona intermediária, o no man´s land onde a tecnologia encontra a rua. Um tipo de estrada consensual experimentada por milhões de operadores conectados - vizinhos virtuais - , cada dia, nesse espaço que eles mesmos criaram, para uma visão simultânea do mundo, inscritos no tempo real da emissão e recepção" (Prado, 1997:43 (2))
No entanto, não se pode dizer que a virtualização seja um desaparecimento ou ilusão. Conforme Lévy, ela é uma dessubstancialização que se inclina na desterritorialização, num efeito Moebius, passando sucessivamente do privado ao público, do interior ao exterior e vice-versa. Como uma abstração da extrema concretude da realidade visível. Lévy afirma não ser um fenômeno recente, pois a espécie humana fora construída por virtualizações - gramaticais, dialéticas e retóricas. O processo virtualizante ocorre com a complementação do que é subjetivo através da influências dos dispositivos técnicos, semióticos e sociais no funcionamento fisiológico e o que é objetivo através dos efeitos dos atos subjetivos na construção do mundo. O real, o possível, o atual e o virtual são complementares e possuem uma dignidade ontológica equivalente" (Lemos, s/d)


A virtualização é necessária no ciberespaço para possibilitar o acesso e a troca de dados nos meios de relacionamentos entre indivíduos através das interfaces, que são intrinsecamente virtuais. Assim, torna-se viável que um objeto real seja representado por meios digitais ilusórios porém que mantém com eficiência suficiente a potencialidade para o objeto virtual ser entendido como se fosse o real original, como a pintura faz.
"A Informação é uma virtualização. Se um acontecimento é retratado pelos media, essa circulação corresponde a uma virtualização do acontecimento, sob a forma da informação. Neste sentido, uma informação não é destruída pelo seu consumo justamente por ser sempre "virtualizante". A utilização/recepção da informação é a sua atualização, já que somos nós que damos sentidos a ela. Nós a atualizamos". (Lemos, s/d)

O ciberespaço atualiza-se a cada dia com inúmeras inovações e facetas utilitárias, crescendo em grande proporção nos últimos anos. Portanto, passou a ser um elemento importante no cotidiano e necessário principalmente para os habitantes urbanos para melhor se adaptar e entender o presente fluxo de informações nas interatividades e integração maior com a linguagem e novos conceitos.

"Das relações do indivíduo com o Ciberespaço surge a cibercultura, que nas artes culmina com a utilização de meios eletrônicos por parte dos artistas, o que podemos chamar de Ciber-arte, cujo exemplos são muitos: a video-arte, arte-robótica, telepresence art, ASCIIart, Tecno-body-art, Web Arte entre outras experiências, como a música eletrônica, sendo hoje atualizada para a música "tecno". A Ciber-arte, desde que surgiu em meados dos anos 70, sempre teve objetivos de conectar artistas de diferentes partes do globo e dar uma maior importância ao processo de criação do que ao produto final ( Lemos, s/d).




O ciberespaço é um só, independente de onde esteja o indivíduo que deseja acessar determinada informação, que também independe do espaço geográfico de onde provém, pois o procedimento é sempre o mesmo. O que o mantém são os interesses em comum e essa trama pra possibilidade de trocas de acessos a dados em todo o mundo, assim como o constante acesso e busca de vínculos de relacionamentos pelos usuários, constituindo, em consequência, comunidades virtuais também.

por: Tania Montandon

referência de leitura:
http://www.fabiofon.com/webartenobrasil/texto_qehwebarte.html
http://www.fabiofon.com/webartenobrasil/texto_ferramentas.html
http://www.fabiofon.com/webartenobrasil/texto_ciberespaco.html
http://www.fabiofon.com/webartenobrasil/texto_arquitetura.html
http://www.fabiofon.com/webartenobrasil/texto_participa.html

mardi 24 février 2009

O ultra BBG - Big Brother Globalizado




Google disse : Privacidade Completa Não Existe

Um casal em Pittsburgh cujo advogado reclamou que a visão das ruas pelo Google Maps é uma invasão ousada e imprudente de privacidade e perdeu o caso na 'justiça'.

Aaron and Christine Boring processaram a Internet, alegando que o Google "desrespeitou de forma significante seus interesses privados" quando câmeras de visualização da rua captaram imagens de sua residência além da marca registrada como "propriedade privada". Reclamaram que a invasão causou sofrimento mental e conflitos de valores em sua casa. Requeriram vinte cinco mil dólares em danos e que as imagens fossem retiradas do site e destruídas


Ironicamente, o caso ficou ainda mais público e divulgado com a reclamação e agora a empresa Allegheny County's Office of Property Assessments inclui uma foto da casa em seu Web site.

As imagens foram retiradas do site, porém Google alegou que fotografar em estradas privadas é legalizado, argumentando que privacidade não existe mais nesta era de satélite e imagens aéreas.

http://news.cnet.com/8301-1023_3-10166532-93.html
http://www.thesmokinggun.com/archive/years/2008/0730081google1.html


Gosta da idéia do Google Earth? Implemente o seu:

"Plugin do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística(IBGE) para o software Google Earth que traz diversas informações e localizações de todos os municípios do Brasil. Possui detalhes, fotos, destaques sobre lugares e locais famosos ou importantes.

Como instalar?

Abra o Google Earth, siga para o menu principal, vá em Arquivo(File) e em Abrir(Open), selecione o plugin salvo no computador e clique em abrir,."

http://epifannias.blogspot.com/2009/02/ibge-para-google-earth.html

lundi 9 février 2009

Sobre o filme "O escolhido" - The chosen, Chaim Potok's



The Chosen- wedding scene


O conflito entre os protagonistas Danny Saunders(brasileiramente Daniel ) e Reuven Malter  possui razões religiosas e ideológicas. O filme exibe dois grupos judaicos que se divergem, sendo um conservador e radicalmente tradicional e o outro mais liberal, político e científico. Essa diferença cultural de ideais e crenças é o principal fator desencadeador do conflito no filme.

Daniel é filho de um líder rabino do grupo de judeus conservador. Pela tradição, esperava-se que tomasse o lugar de seu pai e liderasse a décima geração de sua cultura hassídica. No entanto, o menino cresce e percebe que algo de seu íntimo não concorda com todos os papéis que foram predestinados a ele. Começa, então, a se questionar, questionar sua cultura e torna-se ansioso por ampliar seus conhecimentos, interessando-se pelo estudo da mente, do inconsciente, da Psicologia.

Já Reuven é filho de um professor da cultura liberal, que defendia o sionismo e o estudo hermenêutico da Bíblia. Os dois, que no início odiavam-se, ficam amigos e Reuven passa a achar curioso e interessante conhecer e entender essa cultura tão diferente da sua, tão diferente de tudo o que lhe fora ensinado. Os dois afeiçoam-se e compartilham as diversidades e dúvidas que surgem em relação à vida e tudo o mais que perturba essa fase típica da juventude.

Daniel e Reuven desenvolvem essa amizade a partir da identificação com as semelhanças e interesse em conhecer as diferenças entre eles. A convivência foi fundamental para que amadurecessem e ampliassem a tolerancia e a solidariedade para que pudessem aceitar melhor as discórdias entre as pessoas e melhorar sua capacidade de empatia para com os sofredores.

Perceberam que o ser humano precisa desenvolver, além do cérebro, o coração também, o que ficou bem interpretado e demonstrado pelo personagem Daniel.

"Mentes brilhantes geram conflitos. É preciso educar também o coração." Buda

por: Tania Montandon

mardi 27 janvier 2009

Estudando a virtualidade


REAL E VIRTUAL





"fotografia, o primeiro instrumento automático de representação, substituindo o olho humano e fazendo crer ser possível substituir o experimentável (o real) pela sua imagem (virtual). O cinema, adicionando o fator tempo a esta representação, potencializou esta ilusão."

O desenvolvimento da informática subverte este jogo ao trabalhar o elo entre imagem e objeto em dois sentidos, seja partindo do objeto para obter sua digitalização, ou iniciando com a informação digital para engendrar imagens virtuais.



Os objetos, manipulados através da programação, que poderá lhes conferir novas formas, alterações de textura e iluminação e, principalmente, transformações ao longo do tempo (animação) disponibilizam a experimentação de um espaço intermediário entre o projeto (antes só existente na imaginação) e o objeto (realidade como a conhecemos ou esperamos atingir).

A experimentação tornou-se a tal ponto cotidiana que a imagem deixa de ser representação para se tornar “presentação”. Não é apenas figurativa, mas também funcional. A hipertrofia da imagem conduz ao seu apagamento, à sua absorção como algo inerente à nossa existência, por tornar-se mais um dos elementos bastante cotidianos, sem uma fração do encantamento místico com que se revestira ao longo de séculos.

O virtual não pretende aí substituir o real, mas dotá-lo de uma extensão. O objeto real passa a incorporar esta extensão adquirida pela simulação, mesmo que ela não esteja mais visível. O virtual não substitui o real, mas torna-se uma de suas formas de percepção, num misto em que as duas entidades são requisitadas simultaneamente.






A realidade virtual é um neo-ambiente gerado por algum tipo de tecnologia: cinema, televisão, video-game e computador ou tecnologia alienígena.

A diferenciação entre realidade virtual e "realidade"→ aspectos formais , contrastes, diferenças são extremamente sutis, limitadas

Há a construção de um neo-ambiente a partir do próprio imaginário popular, inspirados em memórias e referências coletivas (nazismo, gladiadores, publicidade, "Hollywood", etc)

A visão de virtualidade apresentada pela filosofia contemporânea → virtual não se contrapõe ao real mas sim o complementa.

A virtualização do texto, segundo nos mostra Pierre Lévi em suas pesquisas, é tão antiga quanto o texto; é a leitura que faz o texto se tornar real. Conhecimentos, vivências , imagens, palavras, trechos são tecidos, dobrados, amarrotados, emaranhados na busca do significado pra isso.

Ao praticar o ato de ler, fazemos a relação com o que temos na memória, o que já vivemos, conhecimentos de outros textos, outras fontes e o que elaboramos do que surge de dentro do próprio texto. =>relações hipertextuais, muito antes de surgir o PC a mídia já se sobbressaía no campo da comunicação, existia a digitação, evoluída da datilografia e, agora, a quase imprescindível internet ( rede entre pessoas, objetos, conhecimentos, imagens, incontáveis interligações se pode destrinchar deste pequeno termo). Tudo isso abre inúmeras possibilidades para desdobramentos outros.



balada no second life


''As passagens do texto mantêm virtualmente uma correspondência, seguindo ou não as instruções do autor'

Mas podemos seguir o direcionamento apontado pelo autor ou fazer desvios e inserir outras formas de ancorá-lo que, pelo fato do texto sempre possuir as brechas das entrelinhas, amarramos a outras pontas clandestinas até então e levando a semânticas outras.

trabalho de ler → desdobrar o sentido
"O espaço do sentido não préexiste à leitura. É criado por nós mesmos, à medida que viajamos sobre ele, mapeando-o."


Também buscamos captar o sentido intentado pelo autor, juntando ao que já temos de conhecimento de outros discursos, imagens, afetos para criarmos nossa própria visão idiossincrásica do texto e disso não há como fugir. Nossa visao do mundo, o modo como pensamos, nossos projetos influenciam nessa trituração, rasgamento e desdobramento do texto ao se fazer a leitura. O texto passa a fazer parte da construção e desenvolvimento de nossa subjetividade que, a partir daí, poderá render outros textos e assim por diante.

É lendo, olhando, ouvindo que nos abrimos na procura de um sentido que provém de "outro"

Trabalhando, construindo, desdobrando, destruindo, reelaborando em cima do texto é que fazemos o significado no qual habitamos.

"O advento da escrita acelerou o processo de artificialização, exteriorização e virtualização da memória que teve início com o despertar do homem."

• virtual → potencialidade de realização, contraditoriamente também podendo ser determinismo de que a realização da ação não é só possível mas, também inexorável.
→ ligado a tecnologia, mais precisamente à informática e à eletrônica enquanto processo de simulação.

O surgimento da linguagem permitiu o desenvolvimento do conceito de temporalidade. Como o tempo só existe completamente de modo virtual.

Assim, a linguagem é uma das mais intensas formas virtualizadoras do ser humano.
Quanto mais desenvolvida → maior seu poder de virtualização.

"As linguagens humanas virtualizam o tempo real, as coisas materiais, os acontecimentos atuais e as situações em curso. Da desintegração do presente absoluto surgem, como as duas faces de uma criação, o tempo e o fora-do-tempo, o averso e o reverso da existência. Acrescentando ao mundo uma dimensão nova, o eterno, o divino, o ideal têm uma história. Eles crescem com a complexidade das linguagens. Questões, problemas, hipóteses abrem buracos no aqui e agora, desembocando, no outro lado do espelho, entre o tempo e a eternidade, na existência virtual."
J.F.Lyotard

dimanche 11 janvier 2009

OLHAR Dois tipos de poder

As discordâncias entre instâncias da República apontam para a força explicativa dos conceitos de Foucault num cenário em que o divórcio entre povo e Estado parece fadado à crise de legitimidade


Open in new window
jpaulo.cunha@uai.com.br

"Durante muito tempo, todas as estratégias políticas pareciam voltadas para a conquista do poder. As diferenças sociais, de classe e de condição de vida estariam submetidas a um jogo maior, a detenção do poder político e econômico. Com o poder na mão ou, em outra estratégia, derrubado o poder da burguesia, o horizonte se abriria para experiências mais libertárias e democráticas. O poder era o inimigo. O poder, por mais repetitivo que pareça, podia tudo. Essa concepção era capaz de unir a esquerda e a direita. Os dois lados do espectro político tinham visão unitária e monolítica do poder. Eles lutavam pelo poder.

Open in new window

O filósofo francês Michel Foucault ensinou a desconfiar do poder, mas também a levá-lo a sério e a não perdê-lo de vista

Era assim que os mais importantes filósofos do século passado viam a estratégia política por excelência. Tratava-se de localizar as brechas do poder, fraturá-lo em oposição, guerrilhas e combate aberto para, depois, tomá-lo nas mãos e mudar a ordem do mundo. Tudo emanava do poder. Pensadores como Jean-Paul Sartre (1905-1980), por exemplo, asseguravam que a luta política passava necessariamente pelo partido comunista. Por trás dessa defesa, mais que a afirmação de um ponto de vista ideológico, estava uma concepção do poder como um todo. O que hoje chamamos de visão macro da sociedade.

"Para Sartre e os marxistas, a única crítica política era a crítica ao poder do Estado capitalista. Toda a opressão se dava em bloco. O capitalismo e sua visão de sociedade se realizavam enquanto projeto globalizante e que, por isso mesmo, precisava ser atacado também de maneira global. O olhar macro sobre a sociedade tinha ganhos evidentes na compreensão dos rumos políticos das nações, mas parecia não enxergar os detalhes. E, como se sabe, Deus, o Diabo e os ditadores moram nos detalhes. Foi exatamente nesse momento que o Michel Foucault (1926-1984) entrou em cena.

Sua concepção de poder ia na contramão do reino mágico do macro. Ele defendia o que nomeou como a microfísica dos poderes. Em primeiro lugar, poder não é uma coisa, mas um procedimento, uma disciplina. Não é algo dado, mas instância que se cria e se transforma com o jogo dos sujeitos em cena. Não se exerce sempre de forma unitária (o Estado manda e o cidadão obedece), mas tem astúcias e narrativas singulares e minudentes. O poder está em toda a parte. E precisa ser combatido em todas elas. A política é algo mais difícil do que parecia.

Filósofo brilhante, Foucault, no entanto, foi considerado por seus contemporâneos como fraco em política. Era inaceitável que um pensador como ele, libertário e crítico da burguesia, não se alinhasse com a esquerda e se perdesse no ataque a poderes microscópios. Racismo, gênero, homossexualismo, censura, vigilância, religião e outros temas que apontavam para exercícios de micropoderes eram, para os partidários da noção convencional de política, no mínimo uma perda de foco. Além disso, Foucault errou em apoios pontuais, como aos aiatolás do Irã, na figura de Khomeini, no fim dos anos 1970.

No entanto, a história parece ter dado mais uma volta e trazido Foucault de novo à baila em questões de política e poder. É cada vez mais claro que os poderes estão brotando a todo momento. É nítido que os novos focos de poder reescreveram a história política contemporânea. É evidente que deter o poder de Estado, por si só, não é mais garantia de nada. É transparente que as novas lutas pontuais e microfísicas são mais eficientes na crítica ao poder que todas as bandeiras liberais e de esquerda. A contemporaneidade política parece ser foucaultiana.

TODO E AS PARTES

Isso não é nem bom nem ruim. É um fato. A recente trombada entre integrantes do Judiciário e da hierarquia da Polícia Federal (PF), com o afastamento do delegado encarregado da Operação Satiagraha, e o acordo entre poderes republicanos (presidentes da República e do Supremo Tribunal Federal) mostram, no entanto, uma cisão entre duas concepções de poder, para prejuízo da cidadania.

Na opinião pública, hoje, há certeza de que muitas ações necessárias devem emanar da liberdade de ação de órgãos responsáveis por políticas de Estado, entre eles a PF. Quando a população vê a instituição agir com independência, sente que há um novo poder sendo gerado a seu favor. O fato de a centralidade do poder ser atacada em nome de ações particulares é um avanço da concepção foucaultiana em direção ao entendimento da população. Não será mais necessário esperar que o governo central tome decisões sobre tudo. A competência em defender o bem público não precisa estar no coração do Estado.

Assim, um governo, seja ele de neoliberal ou social-democrata, se submete a uma nova ordem de exercício da vontade política. Os enfrentamentos, de agora em diante, tendem a se dar de forma múltipla. Pode ser, por exemplo, numa ação direta de grupos homossexuais que lutam por reconhecimento no âmbito do direito de família. Ou na defesa de cotas para minorias em universidades. E até mesmo em favor de bandeiras ecológicas. Até ações como a luta pela reforma agrária, criada no seio de uma concepção marxista, ganham hoje outra dimensão, ao se aliarem com novas formas de organização da produção no campo.

Quando alcançam a dimensão do Estado, nem por isso essas demandas espontâneas perdem a inspiração plural. Para que se tornem realidade, vale tanto o mando do presidente como a ação local de um promotor ou o sucesso de uma manifestação popular. O universal é o valor, não a forma como ele se realiza na vida social. Depois de inspirar a filosofia, a psicologia, a história e a medicina, talvez o século 21 venha, finalmente, a se mostrar devedor de Foucault também em política.

Um exemplo rico dessa forma de motivação é a chamada Lei Seca, que proíbe o consumo de qualquer quantidade de álcool para quem quiser dirigir automóveis. A primeira atitude foi vertical (tradição brasileira de civilizar pela lei, e não o contrário). Nesse momento, todos se acharam no direito de criticar a lei em nome de valores muito menores, como a vontade pessoal de zoar a cabeça e o faturamento de donos de bares. No entanto, a verdadeira ação política veio das pessoas, que se organizaram para defender um ganho real de dignidade.

O que se passa hoje no Brasil é o triste divórcio entre uma concepção autoritária de poder e a defesa do exercício da crítica maneira múltipla e plural, como se a verdade viesse das bordas da sociedade para o coração do Estado. Da vida das pessoas para as instituições criadas para representá-las. Ao afastar o delegado encarregado da ação da PF, o Brasil se mostrou partidário de uma concepção ultrapassada e concentradora de poder. A sociedade, no entanto, parece ter entendido a lição e não deve abrir mão de sua resposta. Vai acatar, mas não vai permitir ser desacatada de novo.

A crítica ao poder é também uma forma de alerta."


fonte: http://www.estaminas.com.br/em.html
caderno Pensar, Sábado, 19 de julho de 2008

samedi 10 janvier 2009

Lord Profanus




Estava a olhar-te em silêncio,
já há algum tempo,
sem nem saber o motivo
dum impulso tão incisivo.
O contorno suave de tua face,
proporcionalmente formada
para o enlace estilizado a contento
dos mais exigentes estetas


Este olhar profundo, sedutor, ai,
o que há doutor? Esta ardência,
calorosa, dilacerando minha mente,
não consigo trabalhar,
não consigo cozinhar,
aquela delineação da masculinidade
em incrível perfeição, meu Deus!

Que loucura, que desejo
de ternura cálida, inteira,
uma vontade verdadeira
aventura nada rotineira
e tê-lo todo em mim, sentir
o cheiro do amor a me arrancar
toda uma volúpia impronunciável.

Não, não pode ser,
sou uma mulher digna,
não uma garota para ceder
a estes lampejos libidinosos,
não, isso nunca. Lá tenho idade
pra futilidades efêmeras?

Ai, sai, imploro
ó meu Deus, sai de mim,
não não não, entre, isso,
entre, ai ai, ahhh...
Meu homem, assim eu eu ahh..

Mais no fundo sinto-te inteiro,
tua alma desnudando-se
em meu interior, num deleite cósmico,
pequena morte, que te quero grande
e várias e sempre e tantas!

Sinta o leite da entrega,
do desprendimento mundano,
do apego delicioso ao profano,
meu lord, meu amo,
amo-te como nunca.
Humanos não são, sensações
prânicas, ritmadas na completa

atividade sem nada,
na dança vital
ou seria mortal?
Puro teor do desvencilhar material,
numa onda de prazer
meta-sensorial, há tanto almejado,
represado, amaldiçoado
pela hipocrisia social.

Não, isso é natural, tua pele
é pura seda fervente, músculos
sentidos em cada contrair e relaxar,
nuvens de inconsciência misturando,
enlouquecendo, delirando
meu ser terreno.

Curvas de passeio, carne,
beijo, desejo. O gosto doce
do suor sagrado, por mim primado
em sua beleza magistral,
divina, carnal. Sim, é meu,
confesso, entrego, desejo-te inteiro
dentro de mim, mais e mais
e por fim rendo-me.

A magnitude da experiência
só pode ser celestial,
algo de sobrenatural,
multiplicidade de explosões cósmicas
numa só tarde, arde e arde e parte
antes que o coração salte.

Uma vida foi, então,
sentida, integrada,
realizada. Derreto,
lampejos de carinho
e beijos, desfaleço...

vendredi 9 janvier 2009

Claude Lévi-Strauss


Viagens ao Brasil central, relatadas em Tristes Trópicos, deram fama a Claude Lévi-Strauss

Antropólogo francês, nascido na Bélgica

28/11/1908, Bruxelas, Bélgica.
http://educacao.uol.com.br/biografias/ult1789u642.jhtm



"Um dos grandes pensadores do século 20, Lévi-Strauss tornou-se conhecido na França, onde seus estudos foram fundamentais para o desenvolvimento da antropologia. Filho de um artista e membro de uma família judia francesa intelectual, estudou na Universidade de Paris.

De início, cursou leis e filosofia, mas descobriu na etnologia sua verdadeira paixão. No Brasil, lecionou sociologia na recém-fundada Universidade de São Paulo, de 1935 a 1939, e fez várias expedições ao Brasil central. É o registro dessas viagens, publicado no livro "Tristes Trópicos" (1955) que lhe trará a fama. Nessa obra ele conta como sua vocação de antropólogo nasceu durante as viagens ao interior do Brasil.

Exilado nos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), foi professor nesse país nos anos 1950. Na França, continuou sua carreira acadêmica, fazendo parte do círculo intelectual de Jean Paul Sartre (1905-1980), e assumiu, em 1959, o departamento de Antropologia Social no College de France, onde ficou até se aposentar, em 1982.

O estudioso jamais aceitou a visão histórica da civilização ocidental como privilegiada e única. Sempre enfatizou que a mente selvagem é igual à civilizada. Sua crença de que as características humanas são as mesmas em toda parte surgiu nas incontáveis viagens que fez ao Brasil e nas visitas a tribos de índígenas das Américas do Sul e do Norte.

O antropólogo passou mais da metade de sua vida estudando o comportamento dos índios americanos. O método usado por ele para estudar a organização social dessas tribos chama-se estruturalismo. "Estruturalismo", diz Lévi-Strauss, "é a procura por harmonias inovadoras".

Suas pesquisas, iniciadas a partir de premissas lingüísticas, deram à ciência contemporânea a teoria de como a mente humana trabalha. O indivíduo passa do estado natural ao cultural enquanto usa a linguagem, aprende a cozinhar, produz objetos etc. Nessa passagem, o homem obedece a leis que ele não criou: elas pertencem a um mecanismo do cérebro. Escreveu, em "O Pensamento Selvagem", que a língua é uma razão que tem suas razões - e estas são desconhecidas pelo ser humano.

Lévi-Strauss não vê o ser humano como um habitante privilegiado do universo, mas como uma espécie passageira que deixará apenas alguns traços de sua existência quando estiver extinta.

Membro da Academia de Ciências Francesa (1973), integra também muitas academias científicas, em especial européias e norte-americanas. Também é doutor honoris causa das universidades de Bruxelas, Oxford, Chicago, Stirling, Upsala, Montréal, México, Québec, Zaïre, Visva Bharati, Yale, Harvard, Johns Hopkins e Columbia, entre outras.

Aos 97 anos, em 2005, recebeu o 17o Prêmio Internacional Catalunha, na Espanha. Declarou na ocasião: "Fico emocionado, porque estou na idade em que não se recebem nem se dão prêmios, pois sou muito velho para fazer parte de um corpo de jurados. Meu único desejo é um pouco mais de respeito para o mundo, que começou sem o ser humano e vai terminar sem ele - isso é algo que sempre deveríamos ter presente". Atualmente, mora em Paris."

_________________________________________________

Lévi-Strauss, no terceiro tomo das "Mitológicas" - lógica dos mitos - elogia a filosofia moral dos ameríndios, diferente qualitativamente da moral ocidental contemporânea. Nossa filosofia moral desconsidera a relação dos homens com os outros seres vivos e com o mundo numa certa arrogância antropológica, como se fosse possível viver isolado da natureza. Conforme o etnólogo, os ameríndios mostram saber manter meolhor a relação equilibrada - nem próximo demais nem afastado demais - com o cosmos, num equilibrio q se exprime na organização dos ciclos, no cuidado com as estações, na sabedoria de fazer conviver os ritmos fisiologicos com a culinária.

O antropólogo percebe q o Islã funcionou como uma barreira de impedimento do encontro entre o budismo e o cristianismo.

"O budismo é a malha que falta na cadeia de nossa história: é o primeiro nó e o ultimo nó: nó q ao se desfazer desfaz a cadeia. A afirmação do sentido da historia culmina fatalmente em uma negação do sentido: entre a critica marxista q libera o homem de suas primeiras cadeias e a critica budista q consuma a sua liberação, não háoposição nem contradição."
(Otávio Paz In: 'Claude Lévi-Strauss ou o novo festim de Esopo')

O desconhecimento da herança budista no Ocidente ajudou no afundamento deste em seu sonho de poder, tão improvavel q pode levá-lo ao auto-destruição.

O mundo existia antes do homem e continuará existindo. LS tem uma visão desencantada sobre a perspectiva futura. Critico do progresso, o etnologo foi ao Novo Mundo para descobrir na raiz o que o Velho Mundo está tendo que digerir com melancolia, segundo ele. A idade de ouro nao esta na cultura nem na natureza, mas talvez entre elas. Reconta incansavelmente a historia q foi se compondo atravessando os mitos. Nada de novo. O futuro inscreve-se no passado. Este ponto é importante de ser entendido pra perceber como , nas demandas do futuro, deixa-se entrever o arcaismo mais renitente.

Apesas da vida humana ser breve antropologicamnete, aindavale lutar e dedicar uma vida contra as danações já possiveis de se precaver, como matar a beleza, prostituir o sentido, extirpar a pureza dos elementos. Mas, pra isso, precisa ter juízo e consciencia ampla do todo em que o homem esta inserido.




dimanche 4 janvier 2009

Viver


 


Viver é um eterno sofrer
Se ao menos a alegria
Não fosse uma ilusão ligeira
Uma vaga de segundo passageira

Que apenas faz lembrar
O quanto viver é sofrer
Que a faísca de logro vai passar
E o que sobra não é bom de ver

Viver é um eterno sofrer
É um morrer que não acontece
Cujo fim se desconhece
Um tormento pereno

Um intolerável mover
Para o nefando antro do ser
Uma alma que se perde
No momento em que perde você